Ocupa escolas: assim também se produz currículo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18675/1981-8106.v34.n.68.s18640

Palavras-chave:

Ocupação de escola. Antagonismo. Articulação. Différance. Acontecimento.

Resumo

A partir das noções de antagonismo e articulação de Ernest Laclau e dos indecidíveis différance e acontecimento de Jacques Derrida, consideramos que nenhuma instância social é caracterizada por consenso. O que temos são processos de diferir e descontinuidades, com movimentos de negociação constantes, sedimentações precárias e provisórias. Tendo as diferenças, negociações e descontinuidades como mobilizadoras de nossa argumentação, este artigo busca trazer as conclusões de uma pesquisa acerca das disputas de significação e produção de sentidos do currículo como efeitos das ocupações de escolas no estado do Rio de Janeiro em 2016. Argumentamos que esse movimento das ocupações tanto se constituiu como um acontecimento disruptivo, nos termos derridianos, quanto, simultaneamente, pode ser lido, nos termos da teoria do discurso, como uma mobilização que se deu pela articulação de demandas atravessadas pelas lógicas da diferença e da equivalência. Demandas foram enunciadas e se modificaram no decorrer da luta, tendo sido articuladas em contraposição a um antagonista – representado pelo governo do estado do Rio de Janeiro – que, do mesmo modo, constituiu-se e modificou-se nesse processo. Defendemos, ainda, que pensar sobre as ocupações é relevante para um estudo sobre as lutas políticas de currículo como circunstanciais, inter-relacionando subjetividades que assumem registros espectrais e que produzem efeitos até os dias de hoje nos sentidos de currículo nas escolas.

Referências

BADIOU, A. Verdade e Sujeito. Estudos Avançados (USP). São Paulo, Agosto de 1994. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40141994000200011. Acesso em: 5 nov. 2023.

BALL, S. J.; Maguire, M.; BRAUM, A. Como as escolas fazem políticas: atuação em escolas secundárias. Tradução: Janete Bridon. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2016.

BARTHES, R. O Prazer do texto. Tradução: Maria Margarida Barahona. Lisboa/Portugal: Edições 70, 2001.

BORGES, V.; LOPES, A.C. Por que o afeto é importante para a política? Implicações teórico-estratégicas. Revista Práxis Educacional. v. 17, n. 48, p. 1-22, out./dez. 2021.

BRASIL. Plano Nacional de Educação (PNE), 2009.

BURITY, J. Pensando colonialidade e de(s)colonialidade no estudo da(s) religião(ões). In: BARBOSA, F. C. (org.); MOLINA, A. M. R. (org.) Islam, decolonialidade e(m) diálogos plurais. São Paulo: Ambigrama Editorial, 2022.

BUTLER, J. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. Tradução: Fernanda Siqueira Miguens; Revisão técnica: Carla Rodrigues. 1. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

COSTA, H. H. C; LOPES, A. C. Sobre a subjetividade/alteridade: conversas com Derrida e Laclau nas políticas de currículo. In: TURA, M. L. R.; GARCIA, M. M. (org.). Currículo, políticas e ação docente. 1. ed. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 51-69.

CUNHA, V. P. da.; LOPES, A. C. Militarização da gestão das escolas públicas: a exclusão da atividade política democrática. Educ. Soc. Campinas, v. 43, e258252, 2022.

DERRIDA, J. A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectiva, 2014.

DERRIDA, J. A universidade sem condição. Tradução: Evando Nascimento. São Paulo: Estação Liberdade, 2003b.

DERRIDA, J. Espectros de Marx. Tradução: Ana Maria Skinner. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.

DERRIDA, J. Esporas. Os estilos de Nietzsche. Tradução: Rafael Haddock-Lobo e Carla Rodrigues. Rio de Janeiro, NAU, 2013.

DERRIDA, J. Força de lei. Tradução: Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2018.

DERRIDA, J. Margens da filosofia. Campinas: Papirus, 1991.

DERRIDA, J. Memória de cegos: o auto-retrato e outras ruínas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

DERRIDA, J. Papel Máquina. Tradução: Evando Nascimento. São Paulo: Estação Liberdade, 2004

DERRIDA, J. Políticas da amizade. Tradução: Fernanda Bernardo. Porto: Campo das Letras Editores S.A., 2003a.

DERRIDA, J. Vadios. Tradução: Fernanda Bernardo, Hugo Amaral e Gonçalo Zagalo. Coimbra: Terra Ocre Edições, 2009.

DERRIDA, J.; FERRARIS, M. O gosto do segredo. Roma: Fim de século – Edições Sociedade Unipessoal Ltda, 2006.

DERRIDA, J.; ROUDINESCO, E. De que amanhã. Tradução: André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2004.

DESTRO, D. de S. Política curricular para a Educação Física escolar: entre disputas, normatividade e controle. Curitiba: CRV, 2022.

HADDOCK-LOBO, R. Derrida e a oscilação do real. Sapere Aude, Belo Horizonte, v. 4, n. 7, p. 25-46, 1º sem. 2013.

HALL, S. A questão da identidade cultural. Textos didáticos. São Paulo, SP: IFHC/Unicamp, 1998.

HALL, S. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2003.

HALL, S. Identidade Cultural e Diáspora. Comunicação & Cultura. Universidade Católica Portuguesa, p. 21-35, 2006.

JUDT, T. O mal ronda a terra: um tratado sobre as insatisfações do presente. Tradução: Celso Nogueira. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.

LACLAU, E. Emancipação e diferença. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2011.

LACLAU, E. Emancipation(s). London: Verso, 1996.

LACLAU, E. La razón populista. Buenos Aires, FCE, 2006.

LOPES, A. C. Articulações de demandas educativas (im)possibilitadas pelo antagonismo ao “Marxismo Cultural”. Arquivos analíticos de políticas educativas – aape. v. 27, n. 109, 16 set. 2019. Disponível em: https://epaa.asu.edu/index.php/epaa/article/view/4881/2303. Acesso em: 2 out. 2023.

LOPES, A. C. Democracia nas políticas de currículo. Cadernos de Pesquisa, v. 42, n. 147, p. 700-715, set./dez. 2012.

LOPES, A. C. No habrá paz en la política. Debates y combates. Fundación Casa del Pueblo – Tucumán/Argentina, n. 6, ano 4, p. 121-143, maio 2014.

LOPES, A. C. Por um currículo sem fundamentos. Linhas críticas (UnB), v. 21, p. 445-466, 2015.

LOPES, A. C. Sobre a decisão política em terreno indecidível. In: LOPES, A. C.; SISCAR, M. (org.). Pensando a política com Derrida: responsabilidade, tradução, porvir. São Paulo: Cortez, 2018.

MORAES, M. J. D. Democracias espectrais: por uma desconstrução da colonialidade. Rio de Janeiro: Editora Nau, 2020.

MOUFFE, C. Sobre o político. Tradução: Fernanda Santos. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2015.

NITAHARA, A. Alunos pedem desocupação de escolas do Rio de Janeiro para a volta das aulas. Agência Brasil. 2016. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-04/estudantes-pedem-desocupacao-de-escolas-do-rio-de-janeiro. Acesso em: 15 jan. 2024.

OCUPAÇÃO NAS ESCOLAS. O que representam? Quais os objetivos? Disponível em: https://direitosbrasil.com/ocupacao-nas-escolas/. Acesso em: 15 jan. 2024.

PINHEIRO, D. Escolas ocupadas no Rio de Janeiro em 2016. Motivações e cotidiano. Iluminuras. Porto Alegre, v. 18, n. 44, p. 265-283, jan./jul. 2017. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/view/75746/43151 Acesso em: 3 set. 2023.

PINTO, M. C.; LOPES, A. C. Juventudes e Ocupações: um currículo possível. Revista Temas em Educação. João Pessoa, Brasil, 2024 (no prelo).

PINTO, M. C. Estratégias de Ensino do Gênero Oral Debate Regrado Público. 2015. 116 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Faculdade de Letras, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ.

SANTOS, M. dos R. Demandas curriculares das ocupações das escolas na cidade do Rio de Janeiro. 2020. 224 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ProPEd/UERJ.

SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2012.

SAVAGE, G. C. O que é agenciamento de políticas? Práxis Educativa. Ponta Grossa, v. 17, p. 1-21, 2022. Disponível em: https:/revistas2.uepg.br/index.php/praxiseducativa. Acesso em: 15 out. 2023.

SILVA, R. R. D. da. Os estudos curriculares e o problema do conhecimento – uma entrevista com Elizabeth Macedo. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 32, n. 64, p. 157-184, jan./abr. 2018.

SOLIS, D. A democracia banida: reflexões a partir da noção de democracia por vir de Jacques Derrida. In: CARRARA, O. V. (org.). A democracia e seus desafios em tempos de crise. Passo Fundo: Editora IFIBE, 2017. p. 191-244.

SOLIS, D. Derrida, um filósofo difícil. In: CARRARA, O. V. (org.). Uma chave para a leitura dos filósofos. Cap V Jacques Derrida. São Paulo: Editora Ideias & Letras, 2015. p. 83-106.

Downloads

Publicado

01-10-2024

Como Citar

PINTO, M. C.; LOPES, A. C. Ocupa escolas: assim também se produz currículo. Educação: Teoria e Prática, [S. l.], v. 34, n. 68, p. e54[2024], 2024. DOI: 10.18675/1981-8106.v34.n.68.s18640. Disponível em: https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br./index.php/educacao/article/view/18640. Acesso em: 12 nov. 2024.